Suzuki GSX-R 750

Durante muitos anos a cilindrada rainha das desportivas foi a de 750 cc. Era a cilindrada das Superbikes, aquela que reflectia o mercado das motos de estrada. Contudo, o mercado evoluiu e mudou, tendo as desportivas vindo gradualmente a separar-se em duas classes imediatamente acima e abaixo desta. “Seiscentos” e “mil” passaram a representar a fatia mais importante do mercado, com reflexos directos nas competições a nível mundial, com a criação da classe Supersport e a passagem das SBK tetracilíndricas para 1000 cc. O segmento das desportivas de 750 cc deixou de ter interesse comercialmente, e apenas a Suzuki se manteve nele, com uma versão aumentada da 600. Será a aposta deste fabricante um erro? Parece-nos que não.

A Suzuki GSX-R 750 surge este ano renovada, a par do que aconteceu com a versão mais pequena de 600, com melhoramentos subtis face ao modelo anterior, mas que marcam o refinamento de um modelo que tem muito para oferecer tanto em eficácia como em facilidade de utilização. Foram quatro os aspectos em que a marca trabalhou no desenvolvimento deste modelo, com o claro objecto de a tornar mais eficaz: capacidade de adaptação às necessidades do condutor, prestações do motor, comportamento em curva e em travagem.

Aperfeiçoada

No primeiro capítulo referido, existem diferentes pontos trabalhados para que a GSX-R se consiga melhor adaptar a cada piloto. O que nos parece mais relevante é mesmo o S-DMS (Suzuki Drive Mode Selector), através do qual podemos escolher diferentes comportamentos do motor, que servem na perfeição tanto para utilizadores menos experientes, que podem suavizar o quatro cilindros em situações em que se sintam menos à-vontade, como para os mais experientes, que podem fazer uso de uma resposta mais suave para ser mais rápidos em situações de piso escorregadio. O S-DMS permite três modos com respostas diferentes. O “C” limita claramente a resposta do motor, tornando-o relativamente dócil, mas utilizável, perfeito para dias chuvosos. Se procuramos ter a potência toda quando rodamos o punho a fundo, mas queremos uma resposta mais controlada na fase inicial do acelerador, bom para a fase de aprendizagem de uma pista ou zona de alcatrão de pior qualidade, então o modo “B” é um excelente auxiliar. Se quisermos tudo o que este motor de quatro cilindros tem para oferecer, o modo é o “A”. Na prática, este sistema pareceu-nos muito mais adaptado às necessidades de um utilizador de desportivas que já tem experiência, do que as definições do S-DMS montado na “seiscentos”, excessivamente limitativo. No campo da ergonomia, além das já normais manetes reguláveis, a Suzuki possibilita a afinação da posição dos pousa-pés, para podermos alternar entre uma postura mais adaptada à estrada ou ao circuito.
O motor recebeu pequenos acertos para garantir um ligeiro incremento nas prestações, nomeadamente ao nível da admissão e escape, e na ciclística alguns elementos foram revistos para garantir um melhor comportamento (ver caixa técnica).




Uma moto à parte

Enquadrando-se entre as duas desportivas da Suzuki, “seiscentos” e “mil”, a GSX-R 750 demonstra qualidades que fazem dela uma escolha muito acertada, e provavelmente a mais inteligente para quem quer uma desportiva eficaz e ao mesmo tempo relativamente fácil de explorar. Por um lado, acaba por apresentar a agilidade e neutralidade que a GSX-R 600 evidencia, mas com mais sumo para explorar no motor. São mais 24 cv medidos no nosso banco de potência e mais 1,3 kgm de binário disponíveis no punho direito. Tudo isto é suficiente para que a GSX-R não deixe aquela sensação de que faltam mais uns “pozinhos” sempre que rodamos o acelerador, como se passa com a “seiscentos”. Face a esta, é mais rápida em aceleração, dos 0-200 km/h demora 9,5 segundos contra os 10,3 da mais pequena e dos 0-1000 m demora menos 3 segundos certos. Nas recuperações, algo que se sente bem na prática com a resposta cheia que o motor da “sete e meio” apresenta, esta é mais rápida dos 60-160 km/h, mesmo com as relações, primária e final mais longas (as seis relações de caixa são iguais às da 600). Perante a GSX-R 1000, a 750 perde em prestações puras, com uma menor capacidade de aceleração, que se vê nos 1,7 s que demora a mais para percorrer o 1000 m de arranque e os 1,6 s que perde nas recuperações do 60-160 km/h. Em velocidade máxima perde 18 km/h. Nenhuma destas diferenças é realmente notória numa utilização feita por um comum motociclista, e garantidamente que a facilidade de utilização que apresenta tornará a maioria deles mais rápidos em todas as situações. O facto de não nos termos de preocupar com o excedente de binário e potência produzidos por um motor “mil”, deixa-nos mais confiantes para explorar mais à-vontade todas as capacidades desta unidade. Menos sustos é igual a maior segurança, que se converte numa maior eficácia da nossa condução. Se somarmos a isto o facto de se poupar 1210 euros face à mil, dificilmente tenho dúvidas na escolha, a menos que goste da sensação de andar com o “coração na boca”, só oferecida pela mil.



Familiar

O primeiro contacto que tivemos com a GSX-R 750, depois de termos rodado com a 600 há tão pouco tempo, é de grande familiaridade. Não só esta moto é em tudo semelhante à mais pequena como a facilidade com que nos adaptamos à sua condução nos dá a ideia de já a conhecermos desde sempre. Ao sentarmo-nos aos seus comandos, temos a clara noção de que esta moto foi pensada tanto para o uso em pista como para estrada. A sua posição de condução fica a meio caminho entre o radical e o suportável em estrada, ao conseguir dar-nos uma boa postura para atacar os traçados mais sinuosos sem colocar peso excessivo sobre os punhos.
O motor é o aspecto que de imediato se destaca e nos faz ver que esta não é a Supersport. Esta unidade apresenta o mesmo equilíbrio, suavidade na resposta e controlo, mas há algo que faz toda a diferença. Se a unidade mais pequena nos agradou pela sua solicitude a médios regimes, esta consegue mostrar-se muito ágil na forma como sobe de rotação. Acima das 3000 rpm responde sem reparos e às 6000 rpm já respira com convicção. Permite que se rode de forma descontraída sem necessitar que se recorra em demasia à caixa de velocidades. Mesmo numa condução mais empenhada, podemos deixar a rotação “cair” muito para lá do normal. Das 6000 rpm para cima este motor vai ganhando cada vez mais energia, sempre de forma constante, sem falhas. Em alta tem uma resposta muito forte, com duas características muito particulares. Por um lado não faz a estonteante rotação da “seiscentos” e por outro não tem a resposta brutal da “mil” o que retira um pouco das “sensações” de condução que alguns utilizadores gostam. Na realidade é bastante mais rápido que o seiscentos, além de mais agradável de utilizar, e como se torna menos delicado de dosear que o “mil” acaba por ser igualmente mais rápido em traçados complicados.
A ciclística funciona maravilhosamente, com umas suspensões que conseguem absorver sem dificuldades de maior as irregularidades sem se mostrarem macias em demasia. Transmitem bem as informações necessárias, com uma frente que “pisa” de forma segura e uma traseira capaz de digerir toda a potência, passando-a com eficácia para o solo. Na travagem, voltamos a ter a mesma sensação de facilidade, com um conjunto que tem tanto de potente com de progressivo.



Facilidade e eficácia

No meio de todas esta facilidade de utilização que a Suzuki GSX-R 750 apresenta, que é em tudo semelhante à da versão de 600 cc, acabamos por encontrar nesta moto uma boa companhia para as principais funções de uma moto desportiva em Portugal, deslocações diárias, a “subida ao Cabo” e um track-day de ano a ano. Para quem procura acima de tudo retirar o máximo de diversão da sua desportiva e já não encontra nas supersport o “sumo” suficiente do motor, a GSX-R 750 acaba por ser uma escolha muito mais inteligente que as potentes “mil”.



Cidade:

A GSX-R 750 não é moto mais adaptada ao ambiente citadino, mas apresenta algumas qualidades. É pequena como uma seiscentos, mas com a vantagem de ter um motor mais solícito a médio regimes. A direcção é leve a baixa velocidade graças ao amortecedor de controlo electrónico. Uma posição pouco carregada sobre os braços e suspensões que não são demasiado secas, acabam por não comprometer.

Estrada:

O ritmo tem de ser rápido e a estrada sinuosa. Neste tipo de situação este modelo é muito divertido e eficaz. O motor responde com uma excelente alma às 6000 rpm, com uma energia capaz de nos levar de curva em curva de forma rápida e sem ter de procurar rotações muito mais elevadas. Daqui é sempre a crescer sem hesitações até ao “corte”, numa toada muito fácil de controlar.

Auto-estrada:

Em auto-estrada a GSX-R 750 cumpre, mas tem de se manter uma velocidade elevada, que nos vai fazer ficar sem carta, se quisermos retirar o peso dos pulsos com a deslocação de ar. A protecção aerodinâmica também não é brilhante, pior que no modelo anterior, obrigando a baixar-nos bastante se quisermos ficar totalmente protegidos.

Circuito:

Este é o ambiente da GSX-R, apresentando um comportamento muito previsível e fácil de controlar. A neutralidade sempre foi uma característica e neste modelo o acrescento de potência decerto que garante um maior divertimento que com a “seiscentos”.